Adoro ler, pois como muitas outras coisas, a leitura também me transforma, quando acabo de ler já sou um pouco diferente do que era quando iniciei a leitura, isto não é bom e nem é ruim, isto é apenas natural. A plasticidade do cérebro é encantadora, para o bem e para o mal, ligações neurais são constantemente alteradas, umas desfeitas, outras criadas, algumas mais são reforçadas enquanto outras são enfraquecidas, e a leitura ajuda nesta reconfiguração constante de nosso circuito neuronal.
A natureza está se lixando para o que eu acho, ou para o que achamos, ela é neutra, aética e eterna caminhante, e o circuito neural vai sendo redesenhado conforme vivemos, experimentamos, sentimos, percebemos ou estudamos, até enquanto dormimos certa “limpeza” neste circuito acontece. Como o cérebro é finito, existe limite físico para o possível neste circuito neural, algumas ligações hão de ser desfeitas, para que novas sejam criadas, enquanto algumas são reforçadas e outras mais atenuadas. Talvez a leitura potencialize mudanças mentais. Isto não significa que estou fazendo apologia de lermos apenas textos de amor, ou de conhecimentos científicos, o que quero dizer é que uma leitura que agrada aos olhos e a mente, atua subliminarmente em nosso cérebro e deposita sementes de transformação em nosso ser, através do redesenho neural. Ser diferente não significa ser melhor ou pior, significa o que é, apenas ser diferente, horas nos transformamos para melhor, e outras horas nos transformamos para pior. Mas a transformação é certa, dia após dia somos diferentes, com ou sem leitura, uma vez que para ocorrerem as transformações basta estar vivo, mas a leitura tem o poder de transcender as letras no papel, e atuar como usina de beneficiamento de transformação de seres.
Mais ainda, adoro escrever. Posso falar para os outros, para pessoas que nunca conseguiria falar, aquilo que penso e que sinto, e de toda maneira ajudar em algum nível de transformação. Para uns posso irradiar transformações que dignifiquem o ser humano, para outros pode ser que meus textos não agradem, que sejam considerados fontes de desumanidade, mas com um certo grau de certeza, alguma transformação eu sei que acontece, depois que alguém terminou de ler algum texto meu, ou de qualquer outro autor. Mesmo que aparentemente nada mude, pelo menos ficou uma sementinha de provocação, que já faz o leitor um pouquinho diferente do quando iniciou a leitura.
O ser humano é um agente da transformação, mas é antes de tudo um agente em eterna transformação.
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