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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Indiferentes ao que podemos ser

Indiferentes ao que podemos ser, somos o que a genética, a sociedade, e a inércia do próprio viver nos faz ser. Esquecemos apenas que pela termodinâmica, o caos e a perda consistente da organização é o nosso destino, é o fim natural. Sem aplicarmos energia intencional, o caminho natural de tudo é um natural aumento da desordem, é a desagregação contínua de toda e qualquer informação. Apesar disto tudo, alguns de nós, chego a crer em muitos de nós, nos achamos física e intelectualmente preparados para deixar a vida nos levar, como ela quiser, e para onde ela quiser. É certo que a vida, a realidade do dia a dia, é mais forte que qualquer preparo nosso, porque caótica e insensível, a realidade acontece, mas daí a deixar totalmente solto o nosso viver, vai muita diferença. A realidade é por si só caótica, não quero dizer absolutamente aleatória, quero dizer determinista porém sem capacidade de com o nosso estado atual de conhecimentos, tecnologia e capacidade sensorial de obter todas as causas em tempo real, a nossa capacidade de previsão se perde, algumas delas em poucos ciclos, sendo que para outras conseguimos uma previsão longa, porem quando estendemos em muito este prazo, esta previsão também tende a se perder. Mesmo sob previsão temporal curta, eventos externos, não “escopados” na análise inicial, a maioria absoluta deles que desconhecemos, podem a qualquer momento afetar nossa previsão. 


Como exemplos, o movimento planetário em torno de nosso sol é bem determinista. Como as distâncias astronômicas são absurdamente grandes, quase que podemos trabalhar o nosso sistema planetário como um cenário isolado de todo o resto, assim temos como prever a posição de um determinado planeta em milhares de anos, mas se elevarmos esta previsão a muitos milhões de anos, a previsibilidade passa a estar turvada, pois não nos é possível uma matriz de infinita resolução, de todos os campos-atributos envolvidos para podermos alcançar esta previsibilidade perfeita. Por outro lado, existem previsões que se perdem muito rapidamente, algumas em tempo de segundos, um exemplo é um pendulo duplo, um pêndulo preso ao final de outro pêndulo, sabemos bem as forças que agirão sobre eles, mas em poucos segundos, já não temos muita previsibilidade sobre o comportamento dele. Outros casos são ainda pior, quem nunca encheu um copo com refrigerante de cola, com pouco gelo, e viu que a espuma cresce muito rápido, a previsibilidade de quais bolhas estourarão em que ordem é praticamente impossível, como a de que bolha surgira durante o processo, posto que não conseguimos tabular todos os campos-atributos que atuam neste experimento. O caos é determinista, apesar da imagem de total aleatoriedade que o termo caos nos remete, porém não previsível em todo escopo. Interessante dicotomia a da realidade, não da realidade em si, mas do nosso estágio de conhecimento e percepção desta realidade.

Deixar a vida nos levar é o melhor caminho para não sabermos a onde vamos chegar. Com gasto de energia, empenho, esforço, estudo, foco e atitude, mesmo assim, não temos a certeza de chegar a lugar algum.

A realidade, seus fatos e eventos são tão inter-relacionados, eventos a eventos, multiplicidade de eventos, em tempo e espaço múltiplos, em um espaço-tempo relativo, que podem, e o fazem, direta ou indiretamente atuar uns sobre os outros, se reforçando, se cancelando, ou se distorcendo mutuamente, e assim horas nos ajudarão e outras horas nos atrapalharão em nosso caminhar. Efeito este conhecido no mundo do caos como efeito borboleta, onde uma decisão ou um fato acontecendo agora na China pode afetar direta ou indiretamente nosso caminho daqui a um ano, e de forma radical alterar todo nosso caminhar.

Pode parecer exagerado, mas o conceito de que uma simples borboleta batendo asas aqui, hoje, pode desencadear uma reação caótica, em cadeia sucessiva, que no mês que vem pode surgir um novo tornado varrendo a costa leste americana, representa bem o sentido do caos, e é bem real.

Isto significa que não devemos focar energias em nosso caminhar? Não, é claro que não. O que isto significa é que, mesmo investindo energias e esforço em nosso presente, o que pode acontecer, ainda assim, é imprevisível em totalidade, por isto não devemos criar esperanças naquilo que de nós não dependa. A esperança pode não se concretizar e o sofrimento será natural.

Quando vivemos o presente, com foco nele, tentando dirigi-lo, utilizando o máximo de racionalismo com as informações de que dispomos, sempre limitadas, mas sem criar esperança alguma, continuaremos nossa caminhada, prontos para a necessidade de alguma reprogramação de rota a todo e a qualquer instante, continuando ativos e nunca indiferentes ao que podemos ser, mas tentando alinhar o que somos ao que podemos ser, desde que o que possamos seja socialmente justo e humanamente digno, pelo que o mundo de nós necessita. 

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