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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Humanidade - este sentimento ainda nos falta

Composto em Março de 2010

Viver nossa vida como verdadeiros seres Humanos é muito mais difícil do que possa parecer. O mundo como um todo parece comungar para nos levar a sermos unicamente apenas mais um neste mundo. Induz-nos a crer que basta viver apenas nossos instintos básicos, que também são humanos, pois que nos compõem enquanto ser, mas que tendem a nos levar de roldão por belas estradas que na verdade nos levam a muitos lugares, mas não aqueles lugares em que podemos realizar o mais plenamente possível nossa humanidade. Não, não que devamos ter vergonha de nossos instintos mais naturais e básicos, posto que somos assim, unos com eles. Eles estão em nós, e nós estamos "programados" pela evolução com eles. É natural, é a nossa natureza, mas a natureza, como à outros animais, também moldou, selecionou, e possibilitou, sem projeto algum, que a sensibilidade, a empatia, o altruísmo, e um sentido natural de justiça estivessem programados em nosso circuito neural. Tudo isto compõe nossa natureza de ser, compõe nossa humanidade, mas às vezes parece que não percebemos isto e mergulhamos apenas em prazeres, vaidades, competição, orgulho, prepotência, descaso social, e descaso com o sentido de justo.
Somos um complexo emaranhado de instintos básicos e reações puras (pura no sentido de natural e não no sentido de pureza como acabamos muitas vezes pensando), mas somos também, e o percebemos já em nossos primos primatas, um potencial de sensibilidade que acabamos por erradamente definir como unicamente humanos ou superior. Entendo que até conseguiríamos viver as primeiras sem as segundas, mas acho descabido imaginar viver as segundas sem as primeiras, uma vez que as primeiras estão mais codificadas em nós, apenas porque são mais antigas como força de sobrevivência animal. Abrir mão das características de sensibilidade, justiça natural, altruísmo, e empatia, é abrir mão de sermos verdadeiramente humanos, não que estas características sejam somente nossas, mas que em nós também estão e podem ser mais desenvolvidas pela nossa capacidade de escolhas, e inteligência mais apuradas. Ser humano é ser todas elas, mas nossa mente mais complexa e com maior poder de processamento em relação aos demais animais nos permite um maior poder de escolha entre as características que realmente dignificam o viver e o social, daquelas que simplesmente nos dão mais prazer, é verdade, mas que muitas vezes nada somam de positivo a dignidade humana, e outras vezes mais denigrem esta mesma dignidade. Nossa identidade humana é também ser um ser social, justo, digno, sensível, empático e altruísta, e relegar isto ou delegar a terceiros é impossível. Não realiza-los é uma escolha possível, mas indigna.

Nossos instintos, ao longo de vários milhões de anos, foram sendo ajustados, por seleção natural, para que sobrevivêssemos em um mundo complexo e perigoso. Mundo este onde nós, ainda hominídeos, em passado extremamente remoto, não possuíamos nada que nos pudesse fazer sair da contingência de presas. Estes instintos, evoluíram para nos ajudar a sobreviver, e tanto evoluíram instintos de agressividade quanto de empatia, do mentir quanto também de justiça, aliás parte destes instintos já vieram naturalmente em todos os primatas. Enquanto evoluíamos, os instintos eram selecionados lado a lado com o crescimento de nossa massa cerebral, e de nossa capacidade de comunicação, nos propiciando assim sermos capazes não só de nos defendermos de nossas presas naturais, mas também passarmos de simples coletores e comedores de carcaças, deixadas por outras presas, a sermos nós mesmos, caçadores de nossa própria ração de carne. Esta evolução, por mais conturbada que tenha sido, nos permitiu também "aprender" a viver em grupos cada vez maiores, o que também propiciou o desenvolvimento de instintos de convencer e de mentir, para que pudéssemos assumir o domínio destes grupos que estavam em crescimento, mas também o da convivência social e o da empatia pelos semelhantes.

Sem estes instintos naturais não teríamos sobrevivido. Eles nos foram vitais. Por isso não devemos ter vergonha daqueles que entendemos como brutos, e nem orgulho daqueles que nos parecem superiores, todos foram necessários para que hoje aqui estivéssemos, eu escrevendo estas palavras desajeitadas e você, aí, lendo e tentando perceber algo de bom neste mero texto. Os grupos sociais continuaram crescendo. Deixamos, depois de milhões de anos, de ser nômades e passamos a ser seres sedentários. Descobrimos que podíamos fazer agricultura e criar animais em rebanho, tudo sob algum controle nosso, para nosso próprio consumo e sobrevivência. Assim nossa sociedade teve início, com nossos instintos “animais” e “humanos”, uns a flor da nossa pele e outros nos recantos de nosso ser. 

No crescer de nossos “bons” instintos, juntamente com os instintos que pejorativamente acabamos por definir como basicamente instintos animais, surgem também aqueles instintos que prepotentemente definimos como “superiores”, não obstante todos comporem nossos instintos de HUMANIDADE. O problema é que a acabamos, por uma série de contingencias, dando mais valor e utilizando muito mais os instintos mais ligados à agressividade, em detrimento daqueles outros instintos, que também nos compõe, mas que ao longo do tempo pareceu ser menos eficaz para a vitória, para a competitividade, e para o poder. Assim a nossa HUMANIDADE passou a ser em parte esquecida, não por todos é claro, em nome de uma luta constante por sobrevivência em poder, em glória e em domínio, e chegamos prepotentemente a nos justificar como sendo o preço da evolução, onde somente os melhores e os mais fortes sobreviveriam o suficiente para deixar descendentes, mas quem foi que falou que a evolução seleciona os mais fortes, os melhores, os mais competitivos, a evolução seleciona os mais bem adaptados, e nossa “inteligência” preferiu interpretar que a força, o poder e a glória eram o melhor para nós e nossa sociedade.

Dentro de todos nós, pelo menos dos saudáveis mentalmente, existe nossa humanidade. Se insistirmos apenas em vivermos nossos instintos de competição, de luta, e de agressividade, estaremos vivendo nossa vida animal, sim, posto que somos todos animais, e estaremos abrindo mão de algo que também é natural em nosso existir, que é o lado social, justo e sensível de ser. Se passarmos a dar valor a nossa HUMANIDADE passaremos, ai sim, a viver o que de mais belo a evolução nos deu, que é a nossa humanidade plena. Somos Humanos, somente quando vivemos nossa HUMANIDADE, somos Homo sapiens, uma espécie variante dos primatas, mamíferos e vertebrados, quando vivemos apenas nossos instintos mais básicos. 

A razão deve ser nossa marca, e a ética deve ser, muito mais do que uma moral localizada e temporal, um dos nossos pilares humanos. A verdadeira Ética, aquela que dignifica a vida, deve estar totalmente imiscuída com o Amor e com a Razão, e somente estes podem fazer de nós, e em especial nossos filhos, seres humanos dignos de nossa verdadeira HUMANIDADE. 

Humanidade, não como sentido de grupo de pessoas, mas sim como sentido do que somos ou do que podemos ser, é algo que está faltando em nossa civilização. Humanidade (aqui no sentido de todos os nossos instintos, mais capacidades racionais, lógicas e de comunicação, aliado a um circuito neural mais poderoso em processamento), é a única grande diferença entre cada um de nós e nossos primos, em espécie, mais próximos.

Ser HUMANO, sem HUMANIDADE, nos faz nada mais do que primatas, talvez apenas mamíferos mais complexos, ou vertebrados mais traiçoeiros.

HUMANIDADE é o nosso real diferencial... Humanidade, é aquilo que nos qualifica como humanos.

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