Somente a leitura nada transforma. Obre, ouse, exponha-se, comprometa-se e caminhe com empatia. . . . . . . . . . . . Transformando o Ser ==> www.transformandooser.blogspot.com

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Uma sociedade que silencia

Uma sociedade não se finge de muda, se tal parece é por que ela está realmente muda, é porque ela deve ter se emudecido ao longo do tempo, da convivência com os excluídos, como se estes não fossem nosso problema, ao longo do crescimento da individualidade e da insensibilidade, posto que se emudeceu naturalmente, como se natural fosse aceitar a desumanidade social. No geral, uma sociedade não pode se fingir de nada posto que ela já seja, simplesmente reflete a emergência intricada, caótica e emaranhada de seus próprios membros, seus interesses maiores e o comportamento domesticado pelo sistema em alinhamento com desígnios dos que detêm o poder econômico, político e corporativo. (Lembrar apenas que caótico não é, e nem nunca foi, sinônimo de aleatório, não é o oposto direto de determinado, e sim sinônimo de não previsível em totalidade apesar de ser um processo determinista em essência). Se a nossa sociedade é muda, ela o é pela desumanidade, insensibilidade e inação da maioria de cada um de seus membros. A sociedade emerge da complexidade mental de cada um de seus membros, de suas interações, de seu comportamento, de suas aspirações, de seus desvios, e de seus interesses, refletindo em realização social, o compromisso, ou melhor o descompromisso, humano de cada um de nós.


Uma sociedade é o que somos nós. É bem verdade que somos influenciados pela sociedade, mas é também verdade que a sociedade sendo um corpo vivo, mutável e dinâmico, reflete o que permitimos que ela seja. O corpo sistêmico somente ganha força e estabilidade quando os órgãos sociais, que somos nós, se calam, se tornam indiferentes, e nada fazem para transformar este corpo, pois acabam por se comprometer com o que aqui está, seja por medo, por interesse, por descaso, por insensibilidade, ou por simples descompromisso social. Uma sociedade tem a ética de seu corpo de indivíduos, o poder econômico cria as leis, ou financia esta criação, que dão sustentação ao poder político, respaldo e continuidade ao próprio poder econômico, alianças de interesses com o poder religioso daqueles que dão sustentação a esta mesma sociedade, e minimamente garante o corporativismo de grupos que se aproveitam destas mesmas leis. Assim uma sociedade que se cala, se cala não enquanto sociedade, mas se cala enquanto cada indivíduo, que por seus interesses se cala primeiramente.

Uma sociedade que silencia o humano, somente ocorre porque cada humano se silencia primeiro, por seus interesses econômicos, políticos, civis ou religiosos, individuais ou corporativos, seculares ou místicos, entendendo-se por interesses políticos, não somente a política comum, vulgar, corporativa e regular, mas também nossa política do viver, nossa filosofia de vida, ou nossa razão de ser enquanto ser humano, enquanto ser social, e enquanto membro ativo ou inativo da sociedade que aceitamos ou corroboramos. Qualquer transformação da sociedade necessita concomitante transformação de nosso ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário