Não adianta fazer cara de bonzinho, se sou muito mais omisso do que deveria ser.
Não adianta fazer cara de culto, se no fundo quase nada sei.
Não adianta fazer cara de sábio, pois que sábios não existem, é uma mera abstração de algum ideal, e no fundo que bom que não existam.
Não adianta fazer cara de revoltado, se no fundo, em essência, falta-me muito para ser um revoltado.
Não adianta fazer cara de quem tem consciência de tudo o que faz, pois que no fundo, do que faz, tem muito pouca consciência.
Não adianta fazer cara de quem é dono de si, pois que no fundo sou muitos, sou complexo, e todos eles, cada um a seu tempo, tem posse sobre mim e sobre aquilo que costumam chamar de livre arbítrio.
Não adianta fazer cara de alguém, se no fundo, sou praticamente um ninguém.
Não adianta fazer cara de humano, se no fundo, de humano, tenho muito pouco, se de humano muito pouco sou, pois que de humano sou muito mais um desumano.
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