Seria possível que amassemos plenamente?
Sinceramente não creio. Mesmo sendo difícil, quase impossível definir o que seja amar plenamente, podemos, cada um com certa variação de valores e de formas, imaginar que amar plenamente seja a realização subjetiva do sentimento de amar como algo completo, infinito e perfeito. Entendo eu que amar plenamente implicaria em um estado de perfeição, em um estado utópico idealista de nosso ser, de nosso subjetivo, que sinceramente não creio ser possível de alcançar, em especial por ser nosso cérebro limitado, imperfeito e por não ser o amor algo programado naturalmente em nossos circuitos neurais, e sim fruto de uma construção contínua, graças a plasticidade deste mesmo circuito. Por outro lado, o entendimento e a percepção do que seria amar plenamente, é por si só construído também subjetivamente, imanente a cada um que pensa, sendo assim, por si só, já impossível de ser algo universal, independente da impossibilidade física, material e neuronal de ser perfeito em qualquer coisa e muito menos em amar plenamente.
Isto, em hipótese nenhuma, desqualifica ou desmerece o Amor ou mesmo desqualifica o humano, muito pelo contrário. Exatamente porque somos, quando conseguimos ser, humanos, é que nos é impossível amar em totalidade e em toda pureza, mas nos é possível chegar, aos poucos, cada vez mais perto desta construção. Se somos um constructo de determinismo genético, de condição do como nascemos, e daquilo em que nos transformamos em plena realização caótica de nosso viver, somos também um pouco daquilo que desejamos, que lutamos para construir, e que conseguimos nos tornar.
Somos animais, gostemos ou não, somos seres neuronais, aceitemos ou não, somos materiais e imanentes, somos naturais onde a natureza em nós é plástica mentalmente, e o amor é algo bioquímico concordemos também ou não. O amor não é nenhum rascunho de algum plano ideal, ele é orgânico e emerge como tudo o que nos faz ser, da complexidade momentânea de nosso circuito cerebral, sendo agora já ligeiramente diferente do quando iniciei este texto, e sendo amanhã já diferente do que agora sou, pois que o circuito neural é plástico e dinâmico em seu redesenho estrutural. Somos parte o que nascemos e somos também em parte o que a vida e o viver de nós fez. Somos também o que queremos, muito menos do que somos o que experimentamos, o que sofremos, o que aprendemos, o que aceitamos, o que sublimamos, o que nos induziram ser ou nos catequisaram. Não posso esquecer que não somos únicos, somos muitos, que não somos perfeitos, pois que não somos fruto de projeto algum, que somos de mente plasticamente mutável, graças a um cérebro também mutável, cuja fisiologia dinâmica se reestrutura continuamente criando, desfazendo ou reforçando ligações, assim somos hoje um pouco diferentes do que ontem fomos, e o reflexo da bioquímica da vida é assim também um pouco diferente, dia a dia, e o amor é também assim diferente.
Amar plena e totalmente implicaria em um cérebro impossível, e muito diferente do que a evolução nos moldou, implicaria em que o que nos tornamos, baseado no que nascemos e no que nos transformamos fosse ideal, fosse perfeito e fosse assim irreal. Mas exatamente o que seria ser perfeito ou ideal? Perfeito para que? Ideal por quê? Estas qualidades jamais serão universais, sendo introspectivas e variando ao longo do tempo, do espaço geográfico e das classes sociais e culturais. A realidade nos fez reais, assim falhos e limitados, animais por nascimento e evolução. O Amor é uma construção, uma busca, uma decisão e a sua perfeição é um estado utópico que deve ser buscado, mas que jamais será alcançado.
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